Avançar para o conteúdo principal

Boas notas

O meu filho está habituado a ter boas notas sem se esforçar muito. A estudar praticamente nada, costuma tirar oitentas e noventas por cento nos testes. Nunca andei atrás dele para estudar, porque nunca foi preciso. Ele sempre geriu o tempo de estudo como bem entendeu e a minha função (e a do pai) foi sempre só lembrar se tinha algum teste no dia seguinte. Ele foi-se habituando a isto e nós também, por isso nunca nos preocupámos muito com as notas, nem lhe exigimos grande coisa em relação a elas.

Na semana passada, chegou a casa todo chateado porque teve as notas mais baixas da sua vida. Não chegou a ter negativas, mas as positivas não estavam muito longe disso.

Disse-me, indignado:
- Mas como é que isto foi acontecer?!
- É normal, não estudas quase nada e a matéria começa a ser mais - respondo, e pergunto a seguir - Tens estado com atenção nas aulas?
- Nem por isso... Tenho falado um bocado na aulas...
- E essas conversas pelo menos têm sido interessantes? 
- Mais ou menos. Às vezes sim, outras vezes não.
- Talvez devas conversar menos nas aulas para perceberes melhor as matérias...
- Sim, vou ter mesmo que conversar menos!
- Se não estudas quase nada, nem estás atento nas aulas é ainda mais normal teres essas notas. Estavas à espera de quê?
- É só isso que me dizes? Que é normal?
- Que queres que te diga?
- Nem sequer ficas chateada?!
- Porque haveria de ficar chateada?
- Porque eu desci as notas...
- O problema é teu. Se queres ter notas melhores, tens que ou estar mais atento nas aulas ou estudar mais. Ou as duas coisas. Caso contrário, não consegues. A matéria pode não ser muito mais difícil, mas é em maior quantidade, e isso requer mais esforço. 
- Mas não ficas nem um bocadinho chateada?
- Não, desde que não tenhas negativas por preguiça e não por não conseguires, não fico chateada. Agora se começares a ter negativas, porque não te esforças nada, aí já me começo a chatear. Sabes que, na escola, tens de cumprir os mínimos quando tens capacidade para isso. Se não tivesses capacidades, ou se tivesses muitas dificuldades, terias que estudar muito mais ou, talvez, recorrer a explicações. Assim, é só uma questão de gerires o teu tempo livre e aproveitares para ires estudando mais um bocado e estares atento às aulas.
- Vou falar menos nas aulas para não ter de estudar mais!
- Faz como achares melhor.
- Faz-me impressão não te zangares comigo...


Comentários

  1. Ahah, é tão esperado que os pais se zanguem com os miúdos por causa disso que eles até estranham. Mas acho que a tua postura foi a correcta :)

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Vá lá, digam qualquer coisinha...
...por mais tramada que seja...

Mensagens populares deste blogue

Vejam só o que encontrei!

Resumindo :  Licenciatura em marketing (um profissional certificado); Gosto pela área comercial (amor cego que se venda barato);  De preferência, recém-licenciado (cabeça fresquinha e sem manhas); Com vontade de aprender (que aceite, feliz, todas as "óptimas" condições de trabalho que lhe oferecem, porque os ensinamentos não têm preço); Disponibilidade imediata (já a sair de casa e a arregaçar as mangas);  Carta de condução (vai de carro e não seguro, como a Leonor descalça do Camões);  Oito horas de trabalho por dia e não por noite (muito tempo luminoso para aprender, sem necessidade de acender velas). Tudo isto, a troco de: Um contrato a termo incerto (um trabalho p'rá vida); 550€ / mês de salário negociável (uma fortuna que pode ser negociável, caso o candidato seja um ingrato); Refeições incluídas (é melhor comer bem durante as horas de serviço, porque vai passar muita fominha a partir daquela hora do dia em que tiver de

O engano

O meu homem, enquanto estende a roupa (sim, cá em casa a roupa é cena dele. Somos estranhos, eu sei!), ouve música. Aliás, ele ouve sempre música, mas hoje, enquanto estava a ouvir música e a estender a roupa e eu a arrumar a loiça do almoço (sim, apesar do moço tratar da roupa, eu também faço umas coisitas cá por casa. Sim, eu sei, parece que somos mesmo estranhíssimos!), pôs os Pink Floyd a tocar. Ao som dos Pink Floyd, comecei a pensar que hoje há pouca cultura que faça as pessoas pensarem como por exemplo os Pink Ployd faziam; que conteste os poderes; que ponha em causa as ditas verdades universais; que cause indignação e contestação. Vivemos na sociedade do engano. Julgamos que temos liberdade, quando somos nós mesmos que restringimos a liberdade, calando-nos. Já não defendemos causas, mandamos umas bocas e ficamo-nos por aí. Os poderes estão instituídos e aceitamo-los, pura e simplesmente, sem um ai realmente sentido. Encolhemos os ombros e distraímo-nos com outras coisas par

Apneia

 Sempre esta coisa da escrita... De há uns anos para cá tornou-se uma necessidade como respirar. Tenho estado em apneia, eu sei. Não só, mas também, porque veio a depressão. Veio, assim, de mansinho, como que para não se fazer notar, instalando-se cá dentro (e cá fora). Começou por me devorar as entranhas qual parasita. Minou-me o corpo e o cérebro, sorvendo-me os neurónios e comendo-me as ideias, a criatividade e a imaginação. Invadiu-me a mente e instalou pensamentos neuróticos, medos, temores, terrores até. Fiquei simultaneamente cheia e vazia. E a vontade de me evaporar preencheu-me por completo, não deixando espaço para mais nada. Não escrevia há meses. Sinto-lhe a falta todos os dias. Mas havia (há) um medo tão grande de começar e só sair merda. E, no entanto, cá estou eu a escrever de novo. Mesmo que merda, a caneta deslizou sobre o papel e, agora, os dedos saltam de tecla em tecla como se daqui nunca tivessem saído. O olhar segue os gatafunhos, o pensamento destrinça frases e e

A Língua do Michael Jordan

O ídolo (imagem retirada da Internet) Um dia destes, enquanto assistia a um treino do meu filho, reparo que ele está sempre de língua de fora... Ele não é daqueles miúdos que põem a língua de fora quando escrevem ou quando fazem qualquer coisa que lhes exija um pouco mais de concentração, por isso estranhei! No intervalo que o treinador lhes dá para irem beber água, ele chega-se ao pé de mim e diz: -Viste, mãe, estive de língua de fora como o Michael Jordan? (Para quem não conhece, o Michael Jordan, o mocinho aqui ao lado, foi um dos melhores jogadores de basquetebol do mundo e uma das suas características era jogar com a língua de fora.) O meu filho estava todo orgulhoso a imitar o Michael Jordan, sentia-se o melhor jogador do mundo à custa da sua linguinha ao vento, mas eu (estúpida!) estraguei a sua alegria, com esta minha triste saída: -Pois, mas se não pões a língua para dentro ainda a mordes se te derem um encontrão, além de pareceres um tontinho... Arrependi-me da parte do