Esta semana, a notícia de uns pais espanhóis que iniciaram uma greve aos TPC gerou mais discussão em volta dos trabalhos de casa.
Vou voltar a este assunto, de que já falei aqui várias vezes, e volto, porque me revolve o estômago deparar-me com lutas destas, ao contrário e egoístas.
Os pais espanhóis revoltaram-se contra os TPC de fim-de-semana, porque, segundo os mesmos, "invadem o tempo das famílias" e "violam o direito ao recreio, à brincadeira e a participar nas actividades artísticas e culturais".
Ora, se os miúdos têm algum tempo para fazer trabalhos de casa, esse tempo será aos fins-de-semana, certo? E quanto aos TPC durante semana, não há revolta? Ah, ok, os dias de semana não dão para irem passear e fazer outras actividades com as famílias, mas dão para os miúdos irem ao futebol, à música, à ginástica ou ao inglês e estas actividades não lhes roubam tempo nenhum para o recreio ou para as brincadeiras, pois não? Ah e tal, são artísticas e culturais e dão muito jeito para ocupar os miúdos mais umas horinhas por dia para os pais poderem respirar.
As crianças também são crianças durante a semana, não são? Ou durante a semana são adultos pequeninos que devem ter os mesmos (ou maiores) horários que os adultos grandes lá de casa?
Não precisarão de tempo para brincar ou simplesmente para não fazerem nada todos os dias?
Ah não, claro que não, crianças desocupadas é que nunca! Se não têm nada para fazer, elas gritam, saltam, correm e fazem perguntas, muitas perguntas. Enfim, dão uma trabalheira do caraças! E para trabalho já basta o emprego dos pais! Não é?
Na notícia do Expresso, o presidente da Confederação Espanhola de Associações de Pais e Mães dos Alunos (Ceapa), José Luis Pazos alega ainda que “as escolas estão a delegar nas famílias tarefas que não devem”.
Ora, aqui surge-me a dúvida se são as famílias que estudam nas escolas e trazem trabalhos para fazer em casa ou se são os alunos.
Se são as famílias, parece-me muito bem que, também elas, devam fazer os TPC. Se são os alunos, não vejo qual é o tormento para as famílias ou quais são as "tarefas que não devem".
Se os pais assumissem que quem tem de fazer os trabalhos de casa são os filhos e se se deixassem de competiçõezinhas entre si (fazendo os TPC das crianças para que elas sejam as melhores), não vejo onde isso lhes acrescentaria novas tarefas.
Os trabalhos de casa, volto a afirmar, servem para os alunos consolidarem conhecimentos e para promover o trabalho autónomo.
Autónomo quer dizer independente, livre. Alunos são os estudantes, aqueles que recebem ensinamentos, formação, instrução. Não vejo onde estão os pais nesta fórmula.
Depois das notícias sobre o caso espanhol, seguiu-se a dos pais portugueses que querem os TPC feitos na escola que, quanto a mim, não me parece totalmente descabido, mas longe, muito longe, de ser o ideal.
Quanto à conversa do presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) que diz que há o perigo de os TPC serem um factor discriminatório, já a acho completamente disparatada, pois o senhor justifica-o com o facto de haver pais que podem ajudar os filhos e/ou pagar a explicadores, e outros não.
Voltando ao início, os TPC são para os alunos fazerem sozinhos, ou não?
O que me parece preocupante nesta questão não são os TPC em si (que, não sendo em quantidades industriais, são úteis para a percepção dos conhecimentos adquiridos por parte dos alunos), mas o tempo que as crianças não têm e o facto de os pais se auto-assumirem ajudantes nesta tarefa.
Na maioria dos casos, o tempo que as crianças não têm não é totalmente ocupado com trabalhos de casa, mas com mil e uma actividades extra-escolares e, voilà, com a própria escola. Ou seja, a maior parte da vida das crianças é dentro da escola e não fora dela e é esse tempo que se tem de diminuir, não os TPC em doses homeopáticas.Tem que se aumentar as horas livres para a brincadeira, fantasia, imaginação e auto-descoberta das crianças, sem que alguém as esteja sempre a ensinar como brincar, fantasiar ou imaginar coisas.
Mas isso já não interessa nada aos pais tão preocupados em ter de ajudar com os TPC, pois, na escola, os filhos estão à guarda de alguém que lhes permite adquirir uma catrefada de competências para o futuro e exigente mercado de trabalho e, além disso, também estão resguardados da vida real e perigosa. Assim, o tempo na escola até é um tempo que dava jeito aumentar, pois tiraria um peso de cima dos ombros dos pais que poderiam trabalhar mais e desfrutar de algumas actividades lúdicas sem o encargo dos filhos e seus TPC.
Com filhos pequenos até compreendo a existência de locais onde as crianças estejam protegidas e mais resguardadas, apesar de achar que o ideal seria elas estarem num sítio onde pudessem brincar ao ar-livre sem actividades programadas, onde houvesse quem olhasse por elas, mas não lhes orientasse as brincadeiras, deixando-as livres na relação umas com as outras. Esse sítio até poderia ser uma espécie de escola, mas sem a clausura que a actual lhes impõe.
Acredito que teríamos crianças mais autónomas, responsáveis e capazes de sociabilizar.
Quanto aos miúdos maiores, começarem a sair de casa sozinhos, apanharem transporte para a escola, preparem pequenas refeições, irem para a rua brincar com os amigos, não me parece nenhum sacrilégio ou negligência parental. Antes pelo contrário, acho que lhes faz falta; que é uma forma de irem conquistando, as poucos, a sua independência; que os põe em contacto com o mundo e que os ensina a moverem-se pelas estradas da vida.
Se me desse para fazer greve a alguma coisa, seria aos intermináveis horários escolares, à acumulação de actividades extra-escolares que prendem os miúdos a cadeiras e mesas em salas fechadas e que lhes exigem comportamento irrepreensível, inactividade física, silêncio e que os transformam em autómatos e carecidos de imaginação, criatividade e autonomia.
Esta sim, seria uma greve pelas crianças! A outra é pelos pais.
Vou voltar a este assunto, de que já falei aqui várias vezes, e volto, porque me revolve o estômago deparar-me com lutas destas, ao contrário e egoístas.
Os pais espanhóis revoltaram-se contra os TPC de fim-de-semana, porque, segundo os mesmos, "invadem o tempo das famílias" e "violam o direito ao recreio, à brincadeira e a participar nas actividades artísticas e culturais".
Ora, se os miúdos têm algum tempo para fazer trabalhos de casa, esse tempo será aos fins-de-semana, certo? E quanto aos TPC durante semana, não há revolta? Ah, ok, os dias de semana não dão para irem passear e fazer outras actividades com as famílias, mas dão para os miúdos irem ao futebol, à música, à ginástica ou ao inglês e estas actividades não lhes roubam tempo nenhum para o recreio ou para as brincadeiras, pois não? Ah e tal, são artísticas e culturais e dão muito jeito para ocupar os miúdos mais umas horinhas por dia para os pais poderem respirar.
As crianças também são crianças durante a semana, não são? Ou durante a semana são adultos pequeninos que devem ter os mesmos (ou maiores) horários que os adultos grandes lá de casa?
Não precisarão de tempo para brincar ou simplesmente para não fazerem nada todos os dias?
Ah não, claro que não, crianças desocupadas é que nunca! Se não têm nada para fazer, elas gritam, saltam, correm e fazem perguntas, muitas perguntas. Enfim, dão uma trabalheira do caraças! E para trabalho já basta o emprego dos pais! Não é?
Na notícia do Expresso, o presidente da Confederação Espanhola de Associações de Pais e Mães dos Alunos (Ceapa), José Luis Pazos alega ainda que “as escolas estão a delegar nas famílias tarefas que não devem”.
Ora, aqui surge-me a dúvida se são as famílias que estudam nas escolas e trazem trabalhos para fazer em casa ou se são os alunos.
Se são as famílias, parece-me muito bem que, também elas, devam fazer os TPC. Se são os alunos, não vejo qual é o tormento para as famílias ou quais são as "tarefas que não devem".
Se os pais assumissem que quem tem de fazer os trabalhos de casa são os filhos e se se deixassem de competiçõezinhas entre si (fazendo os TPC das crianças para que elas sejam as melhores), não vejo onde isso lhes acrescentaria novas tarefas.
Os trabalhos de casa, volto a afirmar, servem para os alunos consolidarem conhecimentos e para promover o trabalho autónomo.
Autónomo quer dizer independente, livre. Alunos são os estudantes, aqueles que recebem ensinamentos, formação, instrução. Não vejo onde estão os pais nesta fórmula.
Depois das notícias sobre o caso espanhol, seguiu-se a dos pais portugueses que querem os TPC feitos na escola que, quanto a mim, não me parece totalmente descabido, mas longe, muito longe, de ser o ideal.
Quanto à conversa do presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) que diz que há o perigo de os TPC serem um factor discriminatório, já a acho completamente disparatada, pois o senhor justifica-o com o facto de haver pais que podem ajudar os filhos e/ou pagar a explicadores, e outros não.
Voltando ao início, os TPC são para os alunos fazerem sozinhos, ou não?
O que me parece preocupante nesta questão não são os TPC em si (que, não sendo em quantidades industriais, são úteis para a percepção dos conhecimentos adquiridos por parte dos alunos), mas o tempo que as crianças não têm e o facto de os pais se auto-assumirem ajudantes nesta tarefa.
Na maioria dos casos, o tempo que as crianças não têm não é totalmente ocupado com trabalhos de casa, mas com mil e uma actividades extra-escolares e, voilà, com a própria escola. Ou seja, a maior parte da vida das crianças é dentro da escola e não fora dela e é esse tempo que se tem de diminuir, não os TPC em doses homeopáticas.Tem que se aumentar as horas livres para a brincadeira, fantasia, imaginação e auto-descoberta das crianças, sem que alguém as esteja sempre a ensinar como brincar, fantasiar ou imaginar coisas.
Mas isso já não interessa nada aos pais tão preocupados em ter de ajudar com os TPC, pois, na escola, os filhos estão à guarda de alguém que lhes permite adquirir uma catrefada de competências para o futuro e exigente mercado de trabalho e, além disso, também estão resguardados da vida real e perigosa. Assim, o tempo na escola até é um tempo que dava jeito aumentar, pois tiraria um peso de cima dos ombros dos pais que poderiam trabalhar mais e desfrutar de algumas actividades lúdicas sem o encargo dos filhos e seus TPC.
Com filhos pequenos até compreendo a existência de locais onde as crianças estejam protegidas e mais resguardadas, apesar de achar que o ideal seria elas estarem num sítio onde pudessem brincar ao ar-livre sem actividades programadas, onde houvesse quem olhasse por elas, mas não lhes orientasse as brincadeiras, deixando-as livres na relação umas com as outras. Esse sítio até poderia ser uma espécie de escola, mas sem a clausura que a actual lhes impõe.
Acredito que teríamos crianças mais autónomas, responsáveis e capazes de sociabilizar.
Quanto aos miúdos maiores, começarem a sair de casa sozinhos, apanharem transporte para a escola, preparem pequenas refeições, irem para a rua brincar com os amigos, não me parece nenhum sacrilégio ou negligência parental. Antes pelo contrário, acho que lhes faz falta; que é uma forma de irem conquistando, as poucos, a sua independência; que os põe em contacto com o mundo e que os ensina a moverem-se pelas estradas da vida.
Se me desse para fazer greve a alguma coisa, seria aos intermináveis horários escolares, à acumulação de actividades extra-escolares que prendem os miúdos a cadeiras e mesas em salas fechadas e que lhes exigem comportamento irrepreensível, inactividade física, silêncio e que os transformam em autómatos e carecidos de imaginação, criatividade e autonomia.
Esta sim, seria uma greve pelas crianças! A outra é pelos pais.
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Vá lá, digam qualquer coisinha...
...por mais tramada que seja...