Estou farta dos dias disto e daquilo. Confesso que já não tenho grande vontade de os comemorar. Além do 25 de Abril e do 1 de Maio, que me parecem agora mais emergentes do que nunca lembrar, dispenso todos os outros dias festivos. Não lhes vejo grande sentido, nem me apetece oferecer presentes só porque sim, porque somos obrigados ou porque parece mal não oferecer. Na verdade, todo o limite do "parece mal" é combustível para me apetecer fazer.
Coisas de adolescente rebelde por resolver, o que é que querem?
Coisas de adolescente rebelde por resolver, o que é que querem?
Este ano, estive mesmo para não oferecer nada à minha mãe, mas ela mostrou-se meia triste, por isso acabei por lhe comprar uma florzinha.
A minha mãe queria oferecer uma flor à minha avó, sua mãe, então fomos os três à florista, eu, ela e o meu bicharoco.
No caminho, o bicharoco, que ainda é mais contracorrente do que eu, disse:
- Flores? Oh, não, não têm piada nenhuma... Depois vão ter de as regar.
- Não, J., estas flores não se regam, põem-se numa jarra com água e pronto.
- Mas assim elas morrem... E flores toda a gente dá. Temos de arranjar alguma coisa mais original.
- Então arranja. Mais original como o quê, por exemplo?
- Um frasco de Nutella ou qualquer coisa do género... Comprávamos um para a bisavó e outro para a avó com aqueles autocolantes que dizem o nome delas ou dizem"mãe".
- A bisavó nem gosta muito de Nutella e eu também não comia aquilo tudo. - disse a minha mãe.
- Oh, mas flores?!
- Sim, flores. A bisavó vai gostar mais, de certeza, e a avó também quer uma, não quer? - atiro a pergunta à minha mãe como quem não quer a coisa.
- Não, não é preciso - responde-me naquele tom de voz dela que quer dizer sim.
Enquanto a avó do J. esperou no carro, eu e o bicharoco fomos comprar as flores. Escolhemos uma de cada cor para cada uma das mães, mas o J. ficou a olhar para um molho de cravos vermelhos que espreitava de dentro de um balde à nossa frente.
- Mãe, acho que a bisavó ia gostar mais de um cravo...
Eu, que já lhe tinha lido o pensamento, respondi que tinha razão e que íamos levar um cravo, também, para a bisavó.
De volta ao carro, explico à minha mãe porque trouxemos o cravo e digo em voz provocadora:
- O J. lembrou-se do cravo para a bisavó, mas não se lembrou de uma flor para mim...
- Oh, tu querias? - pergunta-me desiludido.
- Não, prefiro um daqueles pequenos-almoços na cama que tu tão bem sabes fazer ou esse frasco de Nutella de que falaste.
- Ah, bem me parecia! - suspirou de alívio.
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