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Mensagens

A mostrar mensagens de abril, 2015

E Numa Subtil Proximidade, Chego o Nariz Ao Teu Cabelo...

Às vezes as palavras não chegam e o toque não se proporciona. Estamos longe ou apressados. Ou estamos longe e apressados. Temos também vidas em paralelo. Tu, pequeno ainda, tens amigos em construção, relações a firmar, uma imensidão de coisas a aprender. Tens os dias a fazerem-se quotidiano. Eu, já grande, tenho coisas a tratar e a fazer, manutenção do que edifiquei, reconstrução pessoal, enfim... Tenho quotidiano que me passa pelos dias. Às vezes as palavras não chegam e o toque não se proporciona. E numa subtil proximidade, chego o nariz ao teu cabelo, dou-te um beijo na testa, rasgo a distância que teima atravessar-se entre nós e inspiro o aroma que exalas. Sei da tua tranquilidade ou tormenta pelo cheiro, reconheço-me as entranhas em ti. Adivinho pelo cheiro da cria que é, afinal, tão parte de mim.

Matéria de Ciências

A fazer perguntas de Ciências ao J. como preparação para o teste. - Que tipos de reprodução há? - Há a sexuada e a assexuada. - Como é a assexuada? - É um ser que se reproduz sozinho. - Como? - A partir de uma parte do corpo que origina outro ser igual a ele. - E a sexuada? - Oh, tu sabes... - Sim, sei, mas quero que me expliques. - Oh, oh, é através do... sexo.  - Sim... mas como? - Ó mãe, isto hoje é só a palavra sexual para cá e para lá... - É normal já que a matéria é sobre a reprodução! - Explica-me lá como é a reprodução sexuada. - É através do espermatozóide que fecunda o óvulo. - E pode ser o quê?  - O quê, como? - Interna e externa... - Ah pois... - O que quer dizer? - Que pode ser dentro ou fora do corpo da senhora. - Sim, da fêmea. Não precisa de ser uma senhora. - Pois. - E os rituais de acasalamento? O que são? - São rituais antes de acasalarem. - Boa! Dá-me um exemplo. - Há um pássaro que dá uma minhoca à fêmea. -

Who Are You, Kurt?

Fui ver este filme no fim-de-semana.  Mais do que pensar na vida da estrela, Kurt Cobain: Montage of Heck , fez-me pensar no meu filho. Se a forma como o estamos a educar é a correcta; se há, realmente, alguma forma correcta de se educar os filhos; se lhe damos amor suficiente, e se ele o sente como tal; se o nosso amor não o sufoca; se o facto de ele ter sido um miúdo muito fácil e compreensivo até agora, significará que irá ser um adolescente difícil; o que é isso de "adolescência difícil" e "infância fácil"; onde está o ponto de equilíbrio entre a protecção e segurança e a liberdade de experimentar e de crescer.  Se gostei do filme? Adorei, mas saí de lá meio angustiada. Valeu pela humanização da estrela, pela minha introspecção e pela música genial.  Valeu por tudo. Vão ver! DAQUI

Olho Invejável

O sábado passado foi dedicado à fotografia. O pai do J. é homem de máquina em riste e, por acaso, é bom mas bom na cena. Bem, não é por acaso, é porque ele tem um olho invejável. Este homem vê para lá do que nós, comuns mortais, vemos. E depois fotografa o que vê, o que é óptimo para ceguinhas como eu que, geralmente, não vêem nada. Além do olho, o homem tem mais umas tantas coisas que me enchem de orgulho de ser este o pai que calhou ao J. (e o homem que me calhou a mim), mas não as vou discriminar aqui. Primeiro, porque não gosto de ajudar a concorrência a crescer, depois porque atiraria este post para a categoria porno-coisa e teria de pôr uma bolinha vermelha no canto superior direito, coisa que, como exímia "lerdinha das informáticas", não sei fazer. (Se o soubesse também não adiantaria muito, pois o header é vermelho e a bela da bolinha nem se veria). Adiante. Voltando ao sábado passado, a razão de paparmos quase tudo o que é fotografia deve-se ao facto do pa

E Ainda Dizem que os Aliens Não Existem...

O meu miúdo tem andado meio estranho. De manhã, quando acorda, tem vómitos. Depois passa-lhe e não tem mais durante todo o dia.  Fui com ele ao médico que isto de o ver sofrer, por mais leve que seja, dá-me a volta ao estômago e aperta-me o peito. Tento fingir que não, que sou forte e muito racional, mas a verdade é que me apetece ir logo com ele ao médico em completo histerismo. A sorte é que a minha mãe faz esse papel da histérica mais rápido do que eu, o que me dá algum espaço de manobra para me armar em racional. Foi o papel da racional e ponderada que encarnei durante duas semanas em que experimentámos tudo: mudámos de pequeno-almoço, tomou-o mais tarde, não lavou os dentes a seguir a comer, lavou os dentes antes de comer, não lavou os dentes de todo, jantou mais cedo no dia anterior, dormiu de cabeceira levantada, etc., etc. Depois destas experiências, do miúdo continuar com vómitos e de eu já poder ser histérica de consciência tranquila, fomos mesmo ao médico que lhe passou

#5 Excertos de Uma Coisa Qualquer (Continuação Inventada do 1º Parágrafo da "Metamorfose" do Kafka)

Não estava habituado a ser insecto. Geralmente, acordava cão ou gato. Em tempos, acordara peixe e tivera que saltar para a banheira cheia de água tal fora a agonia que sentira por não conseguir respirar. Acordar insecto era uma novidade. As dificuldades de locomoção eram enormes já que tinha a mania de dormir de barriga para cima e fora assim que acordara. A desproporção entre o corpo e as perninhas minúsculas que se agitavam no ar impedia que Gregor rodasse sobre si próprio de forma a adoptar uma posição que lhe permitisse andar. Este obstáculo era novidade, pois os cães e os gatos em que se tornara anteriormente tinham corpos de dimensões mais harmoniosas, uma maior agilidade e quatro patas em vez de seis. À partida, podia parecer que mais patas significaria maior facilidade de locomoção, mas o facto mostrara-se completamente o oposto: mais patas só incomodavam. Gregor era exímio em transformar-se em animal pela manhã. Deitava-se humano, não muito humano, é certo, mas semelhante a

#4 Excertos de Uma Coisa Qualquer

As canetas de feltro estavam espalhadas na mesa que fazia de toucador e secretária em simultâneo. Rita trocava de caneta consoante a cor de que queria pintar o céu , a casa, o sol. Tentava não ouvir a mãe que não parava de falar e de arrumar coisas nas malas. - Em casa da avó vais poder brincar no jardim, andar de baloiço, dar de comer às galinhas e brincar com os coelhinhos. Adoras brincar com os coelhinhos, não adoras? - Sim, mãe. - responde Rita enquanto mostra o desenho ao pai que a observa em silêncio. - A avó faz bolinhos muito bons. Ao pequeno-almoço vais ter bolinhos acabados de fazer, ainda quentinhos, e vais poder ouvir os passarinhos a cantar. Eles cantam muito alto de manhã. - continua a mãe. - E a escola, mãe? Vou deixar de ir à escola? - Só por uns tempos. Depois voltas. O pai levanta-se da cadeira ao lado da filha e dirige-se à janela. Olha o parque de estacionamento do hotel lá em baixo e pergunta a Rita: - Porque não fazes um desenho de nós dois a brinca

Eis o Que Sobrou Das Maminhas Que Amamentam

Escrevi um longo post sobre a prova das maminhas que dão leite, mas achei que não valia a pena publicá-lo. Apaguei-o. Do longo texto sobraram as seguintes questões: -  O que raio é medicina ocupacional? - A ndam a ver se tiram o benefício das duas horas diárias a quem amamenta porque começaram a ver muitas mães a amamentar os filhos depois do ano de idade?  Não, não deve ser isto, afinal o incentivo à natalidade é muito mais importante do que duas horas diárias de trabalho. Ou não é?

#3 Excertos de Uma Coisa Qualquer

O poder do dinheiro e da reputação eram uma droga de má ressaca. Inebriar-se agora com o novo posto significava dias fechado no quarto, de cama, a vomitar as falsidades dos outros, os sorrisos amarelos e as cortesias forçadas. Sabia o que o esperava, no entanto não hesitava em comprar o bilhete para aquela viagem. Embarcaria de qualquer jeito, mesmo sabendo que dali poderia não haver regresso. 

#2 Excertos de Uma Coisa Qualquer

Começou por correr devagar e foi acelerando o passo a cada minuto. Os óculos serviam de barreira ao vento que soprava cada vez mais forte e empurrava-lhe os cabelos para trás. Aproveitava a corrida para apreciar a paisagem e rever a vida. As férias ainda mantinham uma presença viva na memória. A namorada a bater com a porta do quarto de hotel e a dizer que não o queria voltar a ver ecoava-lhe na mente.  Cada passada era o bater daquela porta e a sensação de abandono que o seguira. Tentava, em vão, que a aceleração da corrida empurrasse aquela solidão para trás das costas. Em vão.

Bullying Blogosférico

Assisti a alguns episódios de bullying blogosférico e não gostei nada do que vi. Não, não eram adolescentes. Não, não eram crianças. Sim, eram pessoas adultas que, supostamente, deviam ter educação e algum juízo. Mas não. Foram episódios tristes, muito tristes.

Proibição e Educação

"O mais fácil é proibir." Em tempos, quando me dei ao trabalho, ou ao prazer, de me dedicar a analisar comportamentos humanos, nomeadamente de professores, pais, educadores, etc., reparei que a lei do menor esforço anda, geralmente, de mãos dadas com as proibições. Proibir é o mais fácil: não há explicações a dar, não há intenção de educar, ou de justificar o porquê de uma causa surtir num determinado efeito. Nada. Proíbe-se e está feito. Se não se respeitar a proibição é-se sancionado, ponto final parágrafo. Vai-se de castigo, leva-se uma palmada, ou qualquer outra coisa que faça uma mossa idêntica à falha cometida. Assunto arrumado, não se fala mais nisso. Ora eu sou teimosa e detesto castigos. E só dou palmadas se achar que o meu filho precisa de um abanão para estar mais atento ao que lhe quero dizer. Sim, admito, dou palmadas de vez quando. Muito raramente, porque não lhes vejo grande utilidade. Prefiro abrir as portas da consciência dos próprios actos do que abrir

Miúda Gira Que Se Farta

A amizade não escolhe quando nascer. Às vezes, basta um pequeno instante para florir, assim como o amor que não bate à porta quando quer entrar. Surge simplesmente. E apanha-nos desprevenidos.  Tive uma amizade destas, fugaz, que durou muito menos do que eu desejaria, porque a minha instantânea e querida amiga faleceu no passado fim-de-semana. Foi um cancro que a levou. Mais um sacana desses...  Fica a saudade das conversas que não tivemos tempo de ter. Fica a saudade desta "miúda gira que se farta". Fica a saudade de ti, Isabel.

Lugares-Comuns

Lugares-comuns dão falta de ar. O ar rareia no espaço apertadinho do lugar-comum, tornando-o claustrofóbico. Só as palavras mudam, saltitando entre aquelas que custam alguns tostões e as gratuitas. Podia encher-se o pequeno espaço de palavras vazias que resultaria no mesmo. Mas não. Há quem insista em repletá-lo de palavras preciosas, enclausurando-as no covil banal. Pobres são as que calham aninharem-se em minúsculo recinto de banalidades. Pobres e miseráveis.

#1 Excertos De Uma Coisa Qualquer

Começar agora era como nascer adulto e enfrentar o mundo com experiência de sábio. Naquele momento, trazer toda a sabedoria de uma vida carregada de ensinamentos às costas e explorar princípios pareceu justificar toda a minha existência. Justificou-a realmente. Se não tivesse dado aquele passo teria apagado a força que me permitiu sobreviver às intempéries da vida, à tempestade que aquela separação se mostrou. A mudança para Barcelona não apagou a dor e a mágoa, mas transformou-as em dormências toleráveis.

#29 Músicas Que Entranham