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Observação da Espécie

Faço um exercício, quase diário, que consiste em observar as pessoas sem as ouvir, e ouvi-las sem as ver.
Gosto de ver as expressões faciais e os movimentos dos seus corpos e inventar as palavras que poderão estar a dizer. Gosto de tentar analisar / interpretar os sons que proferem, imaginando um contexto e ilustrando-o com semblantes.

Faço jogos sozinha, no silêncio da minha mente: Serás capaz de adivinhar do que estão a falar? Que sentimentos descrevem estes movimentos? O que é que aquela cara quererá dizer?

A entoação da voz é tão reveladora... O franzido da testa, a posição dos lábios, o nariz que se contorce e o olhar, oh o olhar, que pode dizer tanto ou tão pouco...

Faço o mesmo jogo comigo, ao espelho: O que queres dizer com esse olhar? Esses olhos muito abertos desejam devorar o mundo ou assustam-se com ele? Será que quem te vê, vê-te na realidade? E quem te ouve? Entende o significado subjacente das tuas palavras?


Gosto da clarividência da adivinhação; gosto de tornar o desconhecido, conhecido; gosto da dúvida permanente que me exulta a mente; gosto do exercício cerebral, apenas e só, pelo exercício; gosto de observar a espécie para a descobrir e me tentar adivinhar.

Comentários

  1. Sopram ventos de melancolia
    Transparente é o cinza que a tua alma encerra

    A minha pobreza é a falta de um par de asas
    Encontrei um lugar de reinvenção das sombras
    Pensei virar as costas ao tempo e ao deslumbramento
    E aí houve estranhamente o amanhecer das minhas palavras

    E passei para te deixar


    Um mágico beijo

    ResponderEliminar
  2. Terríveis são aqueles rostos inexpressivos que não deixam ver a alma...

    Beijinho

    ResponderEliminar
  3. Também gosto de apreciar a espécie!
    Invariavelmente descubro tanto mais sobre mim mesma!

    ResponderEliminar

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