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Depois de Cada Eu Próprio, Virá Sempre Outro Eu Não Tão Próprio (Ou Mais Ainda)

O meu filho está quase a fazer 8 anos. Fogo!!! 8 anos!!!!
E eu que cheguei a pensar que não o iria ver a lavar os dentes sozinho, a ler, a escrever, a ir à escola, a arranjar o pequeno-almoço sem ajuda...
Ele já faz tudo isso e eu tenho estado cá para assistir ao seu crescimento; à conquista gradual pela sua independência; ao seu amadurecimento. 
Estou orgulhosa dele e contente por ainda aqui estar, e a assistir.
Gosto de acompanhar cada passo, cada descoberta, cada conquista, cada "depois de".

Essa história, que nos foi impingida pelos reality shows de "sermos sempre nós próprios" não passa de uma treta!
Nós não somos sempre "nós próprios", nós somos um agora e outro depois. E quem pretender ser eternamente "eu próprio", recusa-se a viver, a evoluir, porque a vida mantém-nos em constante mutação,  numa constante transmutação de "eus".

Eu não sou sempre "eu própria". Hoje, sou uma "eu", amanhã serei outra "eu". Espero continuar assim toda a minha vida, é sinal que vou aprendendo alguma coisa, é sinal que os acontecimentos da vida me vão obrigando a evoluir e a adaptar-me.
Fui umas antes dos acontecimentos mais marcantes da minha vida: a separação dos meus pais, os cavalos, o pai do J., o nascimento do J. o meu cancro, os cancros da minha mãe, o acidente do J. E a partir de cada um deles, passei a ser sempre outra diferente. Fui uma ontem, sou "eu própria" hoje e agora, mas serei outra amanhã (espero!). Só sou "eu própria" agora e o agora está sempre a fugir, portanto estou sempre a deixar de o ser para passar a ser "outra própria".
Não quero com isto dizer que a mudança de "eus" seja sempre de um "eu" menos bom para outro melhor, por vezes, é precisamente o contrário, mas penso que o realmente importante é haver mudança de "eus". Se não as há, é porque já não estamos aqui a fazer nada.

São a todos estes "depois de" e "eus" que quero assistir no meu filho.
Não sei se estarei cá quando ele tiver que fazer a barba todos os dias, talvez já não venha a conhecer os meus netos, ou a conhecer o J. adulto, mas até aqui, eu sei, que conheci imensos J. e encho-me de orgulho, de baba, lágrimas e ranho, de ele ter tido sempre a capacidade de ser INÚMEROS.

Comentários

  1. Realmente o nosso "eu" não permanece imutável... nem pouco mais ou menos.
    Eu encaro isso do ser "eu próprio" numa onda mais leve: de que há que ser coerente com aquilo que damos valor, aquilo em que acreditamos e aquilo que defendemos.
    Ora isso vai mudando à medida que os anos e as experiências passam por nós, por isso, se os nossos valores, crenças e princípios são mutáveis, também mudará o nosso "eu"!
    Também eu já tive muitos "eus próprios", mas acredito que o núcleo da essência mantém-se, e é isso que me dá o norte, muitas vezes!
    Beijinhos

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  2. É verdade, Naná, é a essência que nos dá o norte e é ela que realmente nos define.
    Beijinhos

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  3. já tive mais ou menos a mesma conversa com a minha mãe. Isto porque ela diz algo como: "Mas tu antes gostavas!!" e eu:"quando tinha uns 10 anos mãe agora já não..."
    LOL Beijinhos

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  4. O ser "eu própria" para mim, ão é ser sempre a mesma pessoa todos os dias e em todas as situações, é ser eu em valores, crenças, determinação e ojectivos pessoais. É não me enganar a mim mesma e seguir o meu instinto, seja ele hoje um ou outro sem nunca esquecer o que "eu sou", será que me entendeste ou foi confuso demais??

    Agora um à parte, nem quero imaginar o que passaste ao pensar que não assistirias a tudo isso que o teu filhote foi aprendendo a fazer sozinho, deve ser o pior pesadelos de uma mãe, ou pelo menos um dos piores.
    Felizmente a Vida ainda nos surpreende pela positiva, haja fé em o que quer que seja!
    Eu tenho a certeza que o vais ver a fazer muito e muito mais e te deixará sempre cheia de orgulho.
    Bj** e feliz semana.

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  5. Tanita,
    Concordo mais com a Naná, quando diz que "os nossos valores, crenças e princípios são mutáveis" e que é o "núcleo da essência" que se mantém. Os objectivos pessoais também vão mudando à medida que crescemos. O que pretendias vir a fazer quando eras criança não é o mesmo que pretendes fazer hoje.
    No entanto, a essência fica...

    Concordo contigo quanto ao "não me enganar a mim mesma" e penso que é precisamente aí que está a nossa verdade.

    Obrigada pelo teu querido "à parte"!
    Beijinhos

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