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Strangers in the life

Já vos disse que os seres desta casa são estranhos?
Ups, está escrito a um "post" daqui, mesmo ali em baixo!

Este Verão, fomos de férias a nossa habitual semanita. Há anos que não temos mais de uma semana de férias. Para ser sincera, acho que nunca tivemos mais do que isso. Não, pensando bem, já tivemos sim, uma vez ou outra. Normalmente chega-nos esse tempo para desanuviar, mudar de ares e recarregar baterias e, nestas férias, seguimos o costume.

Este ano, fartos de andarmos agarrados a computadores e tecnologias, sedentos de ar livre e aventura, pegámos no carro e seguimos a sul, rumo somewhere. A única coisa que acordámos com antecedência foi ir para sul junto à costa. Metemos o filho, sacos com alguma roupa, tenda e sacos-cama na bagageira (não o filho não foi na bagageira, só as tralhas) e lá fomos por este país abaixo.

Deixámos os computadores arrumaditos em casa e usámos os telemóveis só quando estritamente necessário. E o estritamente necessário foi sossegar a minha mãe dizendo-lhe que estávamos vivos e dar um espiadela ao Facebook profissional e responder a mensagens de amigos e colaboradores.

Por cá, também nunca ligamos os GPSs dos telefones, que não temos outros e estes vêm encastrados nos bichos, por isso os silenciamos.
Ainda vivemos no tempo dos mapas das estradas. Lembram-se daqueles papelitos dobrados várias vezes com riscos que simulam as estradas do país e nos indicam direcções? Isso! Usámos isso! Eu como o co-piloto, de mapa em punho, e o pai do J. como piloto a seguir minhas instruções, o que me provocou uma sensação de poder incrível. (Vá, miúdo, é mentira, estou a brincar!)

Saímos de casa mais ou menos à hora do almoço e fomos parando onde nos apeteceu.
Seguíamos junto à costa e íamos dormir mais para o interior que é mais barato e tem menos gente.
(Para dizer a verdade, não chegámos a usar os sacos-cama nem a tenda. Para a próxima já não os levamos que só ocupam espaço).

Fomos a praias só ver o mar ou tomar uns banhitos, a castelos, a serras, a praias fluviais. Enfim, fomos por aí e ao sabor do acaso.

As dormidas eram decididas cerca de uma hora antes. Rondávamos a terra escolhida para pernoitar à procura de pensões ou residenciais, entrávamos e perguntávamos se tinham quarto para nós três. Por incrível que possa parecer, arranjámos quarto quase sempre no primeiro sítio em que entrámos. E mais, como chegávamos sem avisar, só tinham quartos duplos para os três, o que nos saiu bem mais baratinho.

Almoçávamos qualquer coisa amanhada nos supermercados e jantávamos nos restaurantes que nos cheiravam bem. Num dos dias, seguimos o cheiro a frango assado, noutro o cheiro a esplanada fresca e agradável.
Seguimos instintos e vontades, livres de compromissos, o que nos soube a ginjas.

Mantivemos as férias quase em segredo, já que para isso acontecer basta não publicar uma única foto no Facebook, nem gritar aos sete ventos "estamos aqui!"; "agora, vamos à casa-de-banho ali da praia X, ok?"; "estamos tão lindos e sensuais com o pezinho enterrado na areia, não estamos?"; "comemos sandocha de presunto ao almoço e um sushi cheio de glamour ao jantar, estão ver! Se estão, metam lá o like, se fazem favor!"

Em vez disso, inspirámos o ar das terras por onde passámos e falámos com as pessoas que se foram cruzando no nosso caminho. Só a rádio M80 não nos largou o caminho todo, já que era o único posto que se ouvia bem em todo lado. Nem tudo pode ser perfeito!

Quando voltámos, contámos a algumas pessoas as nossas férias e algumas mostraram-se muito admiradas por termos seguido sem rumo e sem agenda, por aí fora.
"Não viram os hotéis locais na Internet?"; "Não consultaram a aplicação xpto para saberem o tempo?"; "Não marcaram as estadias com antecedência?", ouvimos de algumas pessoas.

Sentimo-nos uns aliens. Como se viver sem Internet durante uma mísera semaninha fosse uma coisa do outro mundo...
Não é, garanto-vos! Não fizemos nada de especial, apenas vivemos um pouco a vida real. Aquela onde não precisamos de ecrãs para estarmos lá, lembram-se qual é?

Ok, somos estranhos!

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