O meu filho quis ir aprender a tocar bateria.
Tinha apenas andado na música para bebés e na que tem como disciplina na escola.
A música para bebés não durou muito tempo porque ele queria era dançar e ver-se ao espelho da sala de ginásio onde eram dadas as aulas e não queria nada com os instrumentos.
Em pouco tempo, acabámos com a música. Achámos que não valia a pena estarmos a gastar tempo e dinheiro se ele não aproveitava as aulas.
Desde aí, só teve a música da disciplina na escola.
Até ao dia em que fomos passar o ano a casa de uns amigos que tinham uma bateria... O puto apaixonou-se.
Já lá passámos três passagens de ano e ele tenta sempre ficar com o lugar cativo na bateria.
Nesta última vez foi demais, só saiu da bateria para comer e ir à casa-de-banho. Não parou de tocar toda a noite. Por isso, achámos que era boa opção ele ir experimentar ter aulas para ver se gostava assim tanto daquilo. Gostou.
As aulas ficaram melhor opção do que lhe comprar uma bateria. Pelo preço, pelo critério "ir à experiência" e, especialmente, pelo barulho do qual livrámos os nossos ouvidos e os dos nossos vizinhos.
Esta semana, inscrevemo-lo nas ditas aulas.
Na escola de música, durante a inscrição, perguntaram-me:
- Quem escolheu o instrumento? Foi ele?
- Sim, claro! - respondi, surpreendida com a pergunta.
- Estou a perguntar isto, porque, sabe, a bateria é um instrumento que não toca, assim... uma melodia... Ele não vai tocar uma música com melodia... Os bateristas são quase considerados não-músicos, o que na realidade, é uma grande injustiça, porque são músicos como outros quaisquer. E os pais, geralmente, não gostam muito que os filhos toquem bateria, preferem outros instrumentos que tenham a possibilidade de fazer melodia. Isto está bem para vocês?
- Sim, claro, não tem problema nenhum, ele vem aprender a tocar bateria porque gosta e porque isso lhe dá prazer. Não esperamos que ele, depois, saia daqui a fazer gracinhas para mostrarmos aos amigos.
- Ah bom, ok... Surpreende-me a vossa abertura.
A sério? Isto está mesmo a chegar a este ponto? São os pais que escolhem o instrumento que os filhos vão aprender? A música serve para atribuir aptidões às criancinhas ou para as pôr a fazer gracinhas para os amigos como maquinhos de circo? Já os maquinhos estão praticamente proibidos nos circos e as crianças continuam a ser veículo do exibicionismo barato dos pais? Ou são antes um produto que se deve melhorar para poder competir com outros produtos idênticos no selvático mercado de trabalho? Ou são as duas coisas e esqueceram-se que estamos aqui a falar de crianças que, por sua vez, são pessoas? Hã? Está tudo maluquinho, é?
O simples prazer que as coisas podem dar às crianças já não interessam nada se houver uma qualquer aptidão a ser trabalhada para que elas se tornem mais competitivas ou melhores do que as outras?
Porra! Vão, mas é todos à merda, que o meu filho vai aprender a tocar bateria só porque curte bué! Olha que merda!
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...por mais tramada que seja...