Durante a minha luta oncológica, disseram-me várias vezes "tem que aprender a viver um dia de cada vez!" Nunca consegui. Pensava " viver um dia de cada vez, o tanas! Isto não é viver, é uma merda! Para quê prolongar esta merda? Tratamentos, stress, a vida por um fio, dúvida, sempre a dúvida se o dia seguinte chegará, dor em mim e nos outros. Não quero prolongar isto, quero que passe rápido para a seguir sim, viver de verdade! Todos os dias, vivê-los e saboreá-los, depois". Assim fiz. Durante aquele ano de tratamentos, mais coisa menos coisa, vivi em estado moribundo. Deixei que me virassem do avesso, fui às quimios, às radios, às consultas, aos exames, às pequenas cirurgias, etc., etc. Bebi os dois litros de água diários, religiosamente, deixei de fumar, de comer as coisas que me faziam mal, tomei todos os medicamentos que me receitaram à hora certa, enfim, portei-me como a mais bem-comportada das doentes. Na verdade, não vivi aqueles tempos, apenas andei por