Entrou no café. Aspecto andrajoso, samarra a proteger-lhe o corpo, boca sem dentes. O dono do café dirigiu-se-lhe. Rapidamente, pegou nuns talheres e encaminhou-o para uma mesa na esplanada. Pediu que se sentasse. Trouxe-lhe uma sopa e afastou-se.
O homem comia a sopa devagar. Apenas duas colheradas seguidas. O estômago, habituado ao vazio, não aguentava mais que duas, apesar da fome querer a sopa de uma assentada. Vinte minutos para comer uma sopa, igual à que eu comi em cinco.
Mal acabou a sopa, o homem pegou na tigela e deixou-a no balcão, num gesto mais educado do o de qualquer outro cliente limpinho e engravatado. Dirigia-se à casa-de-banho, quando eu saí.
Fiquei com aquele homem às voltas na minha cabeça, o resto do dia...
Tomado pela fome, ia ao café onde lhe davam uma sopa, em troca de se sentar numa mesa da esplanada, o mais longe possível dos restantes clientes. Afastado dos olhos de quem podia pagar a sopa e mudar de roupa todos os dias, a dignidade dele não se abalou. Admirei-o tanto. E desprezei-me tanto por pertencer aos que de, uma forma ou de outra, o querem longe da vista e do coração. Senti-me um animal que rejeita a cria mais fraca. Senti-me reduzida à minha insignificância de quem pode pagar uma sopa.
Ficamos tão pequeninos perante a dignidade de quem não se deixa abalar pelo desprezo vil de uma sociedade consumista...Tão pequeninos, tão pequeninos que somos, afinal.
DIGNIDADE!
ResponderEliminarEssa é a palavra!
E ainda há quem sonhe com malas Chanel
ResponderEliminarBeijoca
Senti-me assim quando vi à pouco uma reportagem sobre os sem abrigo em que um dizia: mais que um prato de comida ou uma manta quente, às vezes do que preciso é de uma palavra... fiquei sem chão e jurei a mim mesma que se me cruzar com um vou-lhe olhar nos olhos e dizer-lhe bom dia, precisa de alguma coisa?
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