Avançar para o conteúdo principal

Portugueses e o Dinheiro

Imagem retirada da Internet

Portugal divide-se por dois grandes grupos e dois pequenos grupos.
Os dois grandes grupos são: 
- O dos portugueses que têm orgulho em não ter dinheiro;
- O dos portugueses que têm vergonha em não ter dinheiro.

O português-tipo do "grupo dos que têm orgulho em não ter dinheiro" exige tudo a todos os outros: ao Estado, ao pai, à mãe, ao primo afastado que está emigrado na Suíça, ao vizinho do lado, ao cão, ao periquito...
Verbaliza: "se eu não tenho dinheiro, quem tem é obrigado a sustentar-me"; "eu tenho direitos!" (e obrigações, não?).

Esta conversa pode parecer-vos um pouco "fascistolas", mas não é! Longe de mim querer, sequer, aproximar-me de tal ideologia!

Eu explico para evitar equívocos:
É por tanta gente exigir direitos, sem nada fazer para os merecer, que a divisão da riqueza é tão deficiente neste país. É por existir gente que se abotoa e se "encosta à sombra da bananeira" que quem realmente precisa fica em carência. É por existir tanta contra-produção, vestida de um exacerbado direito de ter e de poder, que sair deste rame-rame é um acto falhado.
Este português, porta-estandarte da ideologia do "eu tenho direito a isto e àquilo, porque sou pelintra e quero tudo de mão beijada", mata, à nascença, o que poderia ser um trabalho em conjunto para o conjunto.

Nunca, jamais e em tempo algum, direi que um português não tem direito a todos os direitos que lhe são legítimos! No entanto, terá que fazer alguma coisa para isso, nem que seja, apenas, esforçar-se por fazer alguma coisa (que nos dias de hoje, já é trabalho de merecido mérito, porque é extremamente difícil arranjar emprego e porque há quem tente boicotar tudo o que os outros tentam fazer!).

Por outro lado, o português-tipo do "grupo dos que têm vergonha em não ter dinheiro" também não é melhor.
A vergonha enche-o de desejos de grandiosidade. Quer tudo o que faça aparecer aos outros que nada diariamente numa piscina cheia de moedas: Quer a casa com 50 divisões; o carro-banheira; os cartões de crédito em tons de dourado com ""Eng." ou "Dr." a preceder-lhe o nome; o cão de raça, cuja trela não consegue aguentar; a escola, que obrigue o uso da farda, para os filhos; o telemóvel, que o avise quando deve ir à casa-de-banho ou que lhe diga que "afinal, não está assim tão aflitinho"; ser atendido num hospital luxuoso, onde haja quartos individuais, mas não há quem se lembre de lhe vir mudar a garrafa do soro, etc., etc...
Este português inveja um outro português, que virá, a seguir, e que pertence a um grupo mais pequeno, mas não menos expressivo no que diz respeito ao assassínio da divisão justa e igualitária da riqueza. Por causa desta inveja que sente, produz menos e exige mais numa tentativa de sustentar a aparente riqueza.

Por fim, temos dois grupinhos pequeninos de portugueses:
- O dos que têm dinheiro, com muito orgulho;
- O dos que se estão a cagar para o dinheiro.

O português-tipo do "grupo dos que têm dinheiro com muito orgulho" é petulante e arrogante. Atira à cara, sempre que pode, dos elementos dos restantes grupos que "quer, pode e manda"; amealha todas as moedinhas que apanha a cair dos bolsos dos outros e junta-as à sua enorme fortuna; inventa estratégias para multiplicar cada tostão e para se apoderar do que é dos outros; esmifra o adversário até ao tutano; usa e abusa de quem não o consegue enfrentar ou quem, pura e simplesmente, não o quer enfrentar, por medo ou por inveja disfarçada de admiração.
O grande problema deste português é que, normalmente, além de dinheiro, ou talvez associado ao dinheiro, também tem poder, que usa, única e exclusivamente, a seu bel-prazer.

At last, but not least, encontramos o português-tipo do "grupo dos que se estão a cagar para o dinheiro". Este português desejava não ser necessário ter dinheiro. Quer o necessário para usufruir em pleno do que a vida tem para lhe oferecer, nem mais, nem menos. Produz para viver, mas não vive para produzir, muito menos para amealhar ou exibir. Não quer o que não lhe pertence, nem pretende dar o que é seu. Divide os excedentes, mas não sustenta gulosos.

Porque não tem dinheiro, nem a mais nem a menos, orgulho, inveja ou vergonha, este português-tipo é desconsiderado por todos os tipos anteriores e, devagarinho (mas nem tanto assim), vai-se extinguindo como se da Grande Barreira de Coral se tratasse, consumida pela poluição e pelas águas quentes demais.

Comentários

  1. Mammy, este texto está para lá de excelente!

    Muito bom mesmo!

    ResponderEliminar
  2. Muito bom este texto sem duvida. Muitos parabéns, era realmente genial se o dinheiro não fosse necessário,mas acho isso pouco provável.
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  3. Que belíssima apresentação, esquematiza magistralmente a relação que cada um de nós tem com a "massaroca".
    Abracinho meu!

    ResponderEliminar
  4. Obrigada, Maria Teresa! :)
    Abracinho meu também!

    ResponderEliminar
  5. Pois é, a nossa relação com o dinheiro é complicada e difícil, dado que vivemos numa sociedade em que necessitamos dele para tudo, e ele se torna cada vez mais escasso.

    Talvez voltemos às trocas praticadas nas sociedades ancestrais...Parece que já existem vários movimentos de cidadãos a promover esse tipo de "comércio".

    Beijinho

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Vá lá, digam qualquer coisinha...
...por mais tramada que seja...

Mensagens populares deste blogue

Vejam só o que encontrei!

Resumindo :  Licenciatura em marketing (um profissional certificado); Gosto pela área comercial (amor cego que se venda barato);  De preferência, recém-licenciado (cabeça fresquinha e sem manhas); Com vontade de aprender (que aceite, feliz, todas as "óptimas" condições de trabalho que lhe oferecem, porque os ensinamentos não têm preço); Disponibilidade imediata (já a sair de casa e a arregaçar as mangas);  Carta de condução (vai de carro e não seguro, como a Leonor descalça do Camões);  Oito horas de trabalho por dia e não por noite (muito tempo luminoso para aprender, sem necessidade de acender velas). Tudo isto, a troco de: Um contrato a termo incerto (um trabalho p'rá vida); 550€ / mês de salário negociável (uma fortuna que pode ser negociável, caso o candidato seja um ingrato); Refeições incluídas (é melhor comer bem durante as horas de serviço, porque vai passar muita fominha a partir daquela hora do dia em que tiver de

Apneia

 Sempre esta coisa da escrita... De há uns anos para cá tornou-se uma necessidade como respirar. Tenho estado em apneia, eu sei. Não só, mas também, porque veio a depressão. Veio, assim, de mansinho, como que para não se fazer notar, instalando-se cá dentro (e cá fora). Começou por me devorar as entranhas qual parasita. Minou-me o corpo e o cérebro, sorvendo-me os neurónios e comendo-me as ideias, a criatividade e a imaginação. Invadiu-me a mente e instalou pensamentos neuróticos, medos, temores, terrores até. Fiquei simultaneamente cheia e vazia. E a vontade de me evaporar preencheu-me por completo, não deixando espaço para mais nada. Não escrevia há meses. Sinto-lhe a falta todos os dias. Mas havia (há) um medo tão grande de começar e só sair merda. E, no entanto, cá estou eu a escrever de novo. Mesmo que merda, a caneta deslizou sobre o papel e, agora, os dedos saltam de tecla em tecla como se daqui nunca tivessem saído. O olhar segue os gatafunhos, o pensamento destrinça frases e e

Dos blogues

DAQUI Comecei isto dos blogues faz tempo. Mais precisamente em 2011. Faz tanto tempo que este menino aqui já completou cinco anos em Agosto. Há cinco anos e picos que venho para aqui arrotar as minhas postas de pescada. Primeiro, em núpcias das delícias da maternidade; depois confrontada com o fim das núpcias; hoje, com a consciência de que a maternidade se expande por tudo o que é lado da vida da gente. Nunca, mas mesmo nunca, tentei tornar este blogue num lugar cuchi-cuchi, fofinho e queridinho. Este lugar não é de todo fofinho. Não há por aqui adoçantes da vida, nem marcas a embelezar o que se passa por dentro e por fora da minha experiência enquanto mãe, ou enquanto pessoa, ou até mesmo a comandar o que escrevo. Não me deixo limitar por "politicamente correctos" ou estereótipos que atentem contra a minha liberdade na escrita. Escrevo o que me dá na real gana, quando me dá na real gana. Em tempos, cheguei a ter por aqui uma publicidade, mas nada que me prendesse

Tenho uma tatuagem no meio do peito

Ontem, no elevador, olhei ao espelho o meu peito que espreitava pelo decote em bico da camisola, e vi-a. "Tenho uma tatuagem no meio do peito", pensei. Geralmente, não a vejo. Faz parte de mim, há dez anos, aquele pontinho meio azulado. Já quase invisível aos meus olhos, pelo contrário, ontem, olhei-a com atenção, porque o tempo já me separa do dia em que ma fizeram e me deixa olhá-la sem ressentimentos. À tatuagem como à cicatriz que trago no pescoço. A cicatriz foi para tirar o gânglio que confirmou o linfoma. Lembro-me do médico me dizer "vamos fazer uma cicatriz bonitinha. Ainda é nova e vamos conseguir escondê-la na dobra do pescoço. Vai ver que quase não se vai notar". Naquela altura pouco me importava se se ia notar. Entreguei o meu corpo aos médicos como o entrego ao meu homem quando fazemos amor. "Façam o que quiserem desde que me mantenham viva", pensava. "Cortem e cosam à vontade! Que interessa a estética de um corpo se ele está a morrer

Adolescência e liberdade

Os casos de adolescentes que se agridem têm inundado a comunicação social. Ora os irmãos, filhos de um embaixador, que espancaram um rapaz de 15 anos; ora o rapaz de 16 anos que espancou outro de 14 até à morte. Para a comunicação social, estes casos são "doces". Geram polémica, opiniões controversas, ódios e amores e duram, duram, gerando imensos artigos com informações e contra-informações. O primeiro caso, conhecido por "caso dos irmãos iraquianos" pode ter "origens xenófobas", diz-se por aí. A verdade é que se não teve "origens xenófobas" pode vir a ter "fins xenófobos". O facto de se sublinhar que os gémeos são iraquianos na divulgação das notícias sobre este caso está a abrir caminho para potenciar ódios de cariz xenófobo. A opinião pública revolta-se contra os agressores, que não tendo desculpa pelas agressões, seja qual for a origem destas, relacionam-nos com a sua nacionalidade. "Ah e tal, são iraquianos!"; "E